segunda-feira, 2 de julho de 2012

Há exatamente 49 anos, deixava-se de gozar da presença física de Bento Bruno de Menezes Costa, ou simplesmente Bruno de Menezes. O poeta, prosador, crítico literário, estudioso do folclore, cooperativista, entre outras qualidades, deixou-nos no dia 02 de julho de 1963, na cidade de Manaus, aos 70 anos de idade, deixando esposa, filhos...filhos naturais e outros filhos de sua poesia, órfãos de sua arte. 

Acadêmico do Peixe Frito e um dos Vândalos do Apocalipse, Bruno foi um lutador incansável contra as injustiças sociais e isso se refletiu em sua escrita...arte com função reflexiva, arte-denúncia, arte de visionário...Arte Moderna!

Ainda há muito para se descobrir sobre Bruno de Menezes, grande intelectual de nossas letras.

Foi-se o poeta, mas a poesia estará entre nós...sempre!


Romantismo de um Poema Proletário


Não fosse a alma romântica de nossa raça, 
doentia evocação ou uma simples lembrança, 
eu não estaria dando vida a estas líricas palavras, 
para rever agora a tua imagem sucumbida. 


À maneira dos Poetas tísicos e melancólicos, 
das Marílias, que aos seus amores 
ofereciam violetas e madeixas, 
nós repetimos a velha e sempre nova comédia... 


E é por isso, que do teu antigo retrato, 
onde estás exuberante e sadia, 
sorrindo com os teus lábios de polpa sumarosa, 
(como se não dormisses à luz dos vagalumes) 
se evola para mim o mesmo sândalo de tua carne, 
que era rija e colorida como a dos frutos sazonados. 


É por isso, que a mecha dos teus cabelos, 
negros e capitosos como sabias trazê-los, 
e que deixaste como prova de tua faceirice, 
parece ainda agitar-se na tua cabeça de Lindóia, 
e se encrespa, como um punhado de treva, 
entre os meus dedos paralisados. 


Talvez seja por isso... 
Ou porque não foste a terra inteiramente conquistada, 
que os homens espreitavam gulosos e alucinados... 


Ou porque, a tua rústica mocidade, 
cheirando ao mato e ao rio, 
que te viram nua, na tua infância roceira 
fizeram de ti uma força jovem; 
e como os braços de tantas irmãs-proletárias, 
afeitos a lidar com maquinismos e teares, 
também terminaste nos necrológios sem leitores... 




Publicado no livro Lua Sonâmbula: poemas (1953). Poema integrante da série Poemas a Ismael Nery. 


In: MENEZES, Bruno de. Obras completas. Belém: Secretaria de Estado da Cultura, 1993. v.1, p.339-340. (Lendo o Pará, 14) 









2 comentários:

  1. oi Rodrigo, fico feliz em ver que você está escrevendo aqui de novo, e com poesia, que sempre será bem vinda, ainda mais sendo de Bruno de Menezes. Boa semana.

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