quarta-feira, 16 de janeiro de 2013


Ao Juan

Singro...

           não da derradeira forma,

           apenas um até Breve(s)...

Sangro...

           saudoso...

           em um bateau,


ébrio à companhia de Max.

                               
                                                  (RSW)
 

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

CABANAGEM

Hoje, 07 de janeiro, comemoram-se os 178 anos do início do movimento cabano no Pará, mais conhecido como a Cabanagem. A revolta contra o império, durante a regência, aqui em nosso estado foi ímpar pelo fato de os revoltosos tomarem verdadeiramente o poder. Certamente, é este o motivo de pouco se falar em Cabanagem. O projeto elitista de silenciamento deu certo! O Pará tem um vazio histórico no que tange a este assunto. Povo tomando o poder? Para quê falar sobre isto? 
Nem um feriado sequer, apenas um monumento à Cabanagem esquecido em meio aos entulhos de um BRT natimorto, onde se guardavam os restos mortais de lutadores importantes, e hoje se guardam os restos de uma história não dita...Pobre Niemeyer. Nem um feriado sequer, apenas tentativas frustradas de Edmilson Rodrigues de incutir nas mentes belemenses uma identidade cabana, mas identidade não se incute, constrói-se em conjunto com outras identidades. E, infelizmente, afirmo categoricamente: NÃO SOMOS CABANOS! Quem é Angelim? E Batista Campos? Irmãos Vinagre? Como ser cabano, como se reconhecer parte da história de um povo lutador se nem ao menos se sabe quem foram estas pessoas? Como ser cabano se ainda vivemos em uma Belém com mentalidade provinciana? 
Fica o registro.

VIVA O 07 DE JANEIRO, DIA EM QUE SE INICIOU UM DOS MOVIMENTOS SOCIAIS MAIS IMPORTANTES DO BRASIL, PORÉM DESCONHECIDO POR SEU PRÓPRIO POVO: A CABANAGEM!

Prefácio do livro O Cotidiano da Cidade


Morena e mundana como ninguém
(...) Aproxime-se então da natureza. Depois procure, como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde. Não escreva poesias de amor. Evite de início as formas usuais e demasiado comuns: são essas as mais difíceis, pois precisa-se de uma força grande e amadurecida para se produzir algo de pessoal num domínio em que sobram tradições boas, algumas brilhantes. Eis por que deve fugir dos motivos gerais para aqueles que a sua própria existência cotidiana lhe oferece; relate tudo isso com íntima e humilde sinceridade. Utilize, para se exprimir, as coisas de seu ambiente, as imagens de seus sonhos e os objetos de suas lembranças. Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair as suas riquezas. (...)
Rainer Maria Rilke (Cartas a um jovem poeta)
Não tardarei em elucidar os versos de Rilke, no entanto é necessário a priori ressaltar a grandeza e coragem existentes na realização de um concurso de literatura em uma conjuntura tão paradoxal quanto a que estamos vivenciando, na qual se está tão perto e ao mesmo tempo tão longe da poesia que emana das coisas. Nas proximidades de seus 396 anos, Belém, essa “pequena” imaculada do Bar do Parque, merecia há tempos um presente desse porte, uma justa e singela homenagem em forma de arte, a “mangueirosa” revista, revisitada, ressignificada em verso e prosa.  Tem-se, com um concurso dessa envergadura, a oportunidade de vir à tona a verve artística de poeta adormecida em muitos e desconhecida em outros, bastou-se a fagulha de um certame literário para acender a fogueira do amor, da paixão, da prostituição, da morte, da religião, elementos inerentes a nossa e a tantas outras cidades, elementos que desvelam, que chocam, pois a arte não está aqui para escamotear a realidade presente no cotidiano, e sim para revelá-la, provocar o leitor para a percepção e reflexão acerca de algo que muitos não enxergam. Os textos deste livro desnudam uma Belém barrocamente oposta, santificada e prostituída, bela e fétida, ensolarada e chuvosa, fazendo-me lembrar da sutileza nos versos de Manuel Bandeira e da acidez inexorável das palavras de Max Martins, oposição que se faz presente nos veios de uma Belém que possui um cotidiano rilkeano, do qual o poeta se vale para extrair a seiva da poesia em uma drummondiana luta com as palavras, para que em tão pouco espaço seja dita uma infinidade de (re)significações. No entanto, a luta não foi em vão. A luta pela arte nunca é em vão. À maneira de Rilke, os poetas conseguiram penetrar no âmago do cotidiano belemense e sugaram-no como se este fosse a última fruta de uma velha mangueira prestes a cair no meio de um mundo concreto, composto por pessoas concretadas, embrutecidas pelo tempo... Porém, a poesia está lá, rompendo o concreto e o embrutecimento, trazendo vida à existência (pasmem, entre vida e existência não há sinonímia) de uma cidade velha por vocação, linda por devoção e poética apenas pelo fato de ser, cidade morena e mundana que a ninguém pertence!